A Jornada de Uma Vida no Mar: Como Tudo Começou





Raul e Nidia no Veleiro

Introdução: A história da minha família começa com um sonho: a busca por uma vida de liberdade, aventura e conexão profunda com a natureza. Para muitos, o mar é apenas um lugar de passagem, mas para meus pais, Raul e Nidia, ele se tornou um lar durante sete anos. O que leva alguém a vender tudo o que tem e embarcar em um veleiro com um bebê a bordo, pronto para explorar os mares do Brasil? Nesta primeira postagem, compartilho o início dessa jornada extraordinária que moldou a vida da nossa família.

O Encontro de Dois Mundos

ANDATRIX 25 Trimarã

Tudo começou em Buenos Aires, onde meu pai, Raul Oscar Diaz Langou, nasceu e cresceu. Formado em Direito, ele seguiu um caminho tradicional por algum tempo, mas sua verdadeira paixão nunca esteve nos tribunais. Desde muito jovem, Raul foi atraído pelo oceano. O mar, para ele, representava liberdade, desafio e aventura. Antes de completar 20 anos, já havia iniciado sua jornada no mundo náutico, construindo barcos e fundando sua própria empresa de pintura naval.
Sua primeira criação foi o trimarã ANDATRIX 25, o primeiro barco desse tipo construído na Argentina. Raul navegou solitariamente pelo Rio da Prata, e foi nesse período que consolidou seu desejo de explorar mais longe. Após o ANDATRIX 25, ele desenvolveu um catamarã de compensado torturado, chamado Tornado A1, o primeiro catamarã olímpico da região. Este foi apenas o início de uma vida dedicada à inovação na construção naval.
Minha mãe, Nidia Inês Battaglia, veio de um mundo completamente diferente. Arquiteta de profissão, ela tinha uma visão artística da vida, criando obras e projetos com um profundo senso estético. Mas um acidente trágico tirou seus pais muito cedo, e ela assumiu a responsabilidade por seus irmãos, Horacio e Cecília. A maturidade veio com sacrifícios, e Nidia encontrou em Raul alguém que compartilhava sua vontade de romper com a vida convencional e seguir um sonho maior. O destino os uniu, e logo, decidiram embarcar em uma aventura rara: viver no mar.

O Início da Vida Náutica

Construção do Samadhi

Em 1986, em meio a uma crise econômica que devastava a Argentina, meus pais tomaram uma decisão ousada: venderam tudo o que possuíam e construíram o veleiro que se tornaria nosso lar. O estaleiro que meu pai possuía, chamado Bitacora, foi o lugar onde o Samadhi nasceu, um veleiro monocasco de 38 pés projetado para ser forte e resistente, capaz de enfrentar os desafios do oceano aberto.
A vida no mar não era apenas uma fuga das dificuldades econômicas; era um desejo profundo de reconectar-se com a natureza, de viver uma vida simples, autossuficiente e significativa. Raul e Nidia estavam determinados a construir um futuro onde a natureza fosse o cenário constante e o mar, o companheiro diário. Com meu irmão Martin nascido em 17 de março de 1986, eles partiram de Buenos Aires rumo ao litoral brasileiro, carregando apenas o essencial a bordo do Samadhi.

Uma Vida de Descobertas e Desafios

Golfinhos nadando ao lado do barco

A jornada pelos mares do Brasil foi repleta de aventuras e desafios. Um dos primeiros destinos foi a Ilha de Cananéia, em São Paulo, onde meu irmão Beda nasceu. Cananéia era um paraíso isolado, com paisagens que pareciam saídas de um sonho. Foi ali que meu pai, aproveitando sua vasta experiência em construção naval, assumiu a responsabilidade de gerenciar um estaleiro local, o que permitiu que ele sustentasse a vida no mar enquanto ainda estava imerso no mundo da construção de barcos.
A rotina a bordo do Samadhi era simples, mas cheia de desafios. Vivíamos de forma autossuficiente, com poucos luxos e profundamente conectados com o ambiente ao nosso redor. O mar não era apenas nosso lar, era também nossa escola. Aprendemos sobre os ritmos das marés, a vida marinha, e experimentamos momentos de beleza inigualável ao observar golfinhos nadando ao lado do barco e baleias rompendo as ondas. Cada dia trazia uma nova lição, e o oceano se tornava uma parte integral da nossa existência.

O Nascimento no Mar e a Continuação da Jornada

Porto Seguro

Porto Seguro

Em 1990, ancorados em Porto Seguro, Bahia, minha história começou de uma maneira que poucos podem imaginar: nasci cercado pelas águas que haviam se tornado o lar de nossa família. O mar não era apenas o pano de fundo da nossa vida – ele era parte essencial de quem éramos, e o destino quis que minha chegada ao mundo fosse diretamente conectada a essa força imensurável da natureza.

Nasci no próprio Samadhi, o barco que simbolizava nossa liberdade, com uma parteira a bordo e meu pai como assistente dedicado. Minha mãe, Nidia, cercada pelo som das ondas e a brisa do mar, trouxe-me ao mundo com a calma e a força de quem sabia que o mar era mais do que um cenário – ele era parte de nós. O Samadhi, que até então havia sido nosso refúgio, tornou-se também o palco de um dos momentos mais significativos da nossa jornada.

A energia do oceano parecia abençoar o momento, e o nascer a bordo tornou-se um símbolo de renovação, uma prova do quão profundamente o mar estava entrelaçado em nossas vidas. O mar, que nos acolheu como uma família, agora fazia parte de mim, desde o primeiro suspiro. Não havia hospital, cidade grande ou qualquer outro ambiente convencional – havia o infinito do oceano e a simplicidade da vida a bordo, onde a natureza ditava o ritmo.

Esse momento marcou não apenas a continuidade de nossa jornada, mas também reforçou o laço inquebrável que compartilhávamos com o oceano. Era como se eu tivesse sido “batizado” pelas águas, começando minha vida em um ambiente que representava tanto liberdade quanto resiliência. Para meus pais, minha chegada a bordo foi a confirmação de que estávamos no caminho certo, vivendo em sintonia com aquilo que mais importava: a natureza, a aventura e a coragem de seguir sonhos que desafiam o comum.

A Nova Vida em Terra: Barra de São Miguel

Barra de São Miguel

Depois de anos no mar, meus pais decidiram que era hora de ancorar em terra firme. Chegamos a Alagoas, na Barra de São Miguel, um lugar onde o azul do oceano se fundia perfeitamente com as praias de areia branca. Ali, a vida mudou de curso, mas o mar nunca deixou de estar presente. Raul e Nidia começaram a oferecer passeios de barco para turistas, levando-os da Barra até a Praia do Gunga. Durante esses passeios, minha mãe contava as histórias da nossa vida no mar, cativando as pessoas com relatos das aventuras e desafios que enfrentamos.
A decisão de ancorar em terra não significava o fim de nossa jornada marítima, mas sim o início de uma nova fase. O Samadhi ainda era parte central de nossas vidas, e a conexão com o oceano nunca desapareceu. O barco que foi nosso refúgio por tantos anos agora servia como um elo entre o passado e o presente, e as histórias que vivemos no mar continuavam a inspirar todos ao nosso redor.

O Samadhi: Nossa Casa no Mar

Samadhi navegando

O Samadhi não era apenas um meio de transporte – ele era nossa casa, nosso refúgio, e nossa conexão com o universo. O nome, que significa o mais alto grau de meditação e conexão espiritual, refletia perfeitamente o espírito da nossa jornada. Durante sete anos, ele foi o lugar onde crescemos, aprendemos e vivemos em plena harmonia com a natureza.
Mesmo quando começamos a trabalhar com passeios turísticos na Barra de São Miguel, o Samadhi continuava a ser uma parte central de nossas vidas. Meu pai sempre dizia que o barco não era apenas uma criação dele, mas sim uma extensão de sua alma, uma obra-prima que refletia sua paixão e dedicação à construção naval. E mesmo depois de vendido, o Samadhi continuou a navegar, testado e aprovado pelo tempo, com quase 30 anos de vida.

Conclusão: Essa é apenas a primeira parte de uma história de coragem e autenticidade, de viver além dos padrões e buscar uma conexão real com a natureza. O Samadhi foi mais que um barco – ele simbolizou o propósito de uma vida simples, verdadeira e repleta de significado. Cada travessia foi uma lição de resiliência e um convite para descobertas que nos moldaram profundamente.

Nos próximos capítulos, vou compartilhar as aventuras e os desafios inesquecíveis que fizeram de nós quem somos. Navegar pelo desconhecido trouxe não só aventuras, mas também aprendizados que transformaram nossa visão de vida e nos conectaram ao mundo de uma forma única. Acompanhe a próxima etapa: “Nascer e Crescer no Mar – Aventuras, Desafios e Histórias Inesquecíveis”, e descubra como essas experiências nos fizeram enxergar além do horizonte.

E agora, queremos ouvir você! Já viveu momentos que desafiaram sua visão de vida? Compartilhe sua história nos comentários. Juntos, vamos transformar essas memórias em uma troca inspiradora, onde cada experiência enriquece a nossa jornada.
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7 respostas para “A Jornada de Uma Vida no Mar: Como Tudo Começou”

  1. Avatar de Everton

    Verdadeiro sabor argentino. um sanduíche melhor que o outro, nao sei qual o melhor.
    Só sei que cada lanche trás uma experiência diferente!

    1. Avatar de ElGringo

      Que maravilha ler isso! Ficamos muito felizes em saber que cada sanduíche te proporcionou uma experiência única. Esse é exatamente o nosso objetivo: trazer o verdadeiro sabor argentino com criatividade em cada mordida. Obrigado pelo carinho e pelo feedback tão especial! Seguimos trabalhando para surpreender sempre.

  2. Avatar de André Luis Vieira Duarte Silva
    André Luis Vieira Duarte Silva

    Hermano, lá viajem de la vida!!!

  3. Avatar de André Luis Vieira Duarte Silva
    André Luis Vieira Duarte Silva

    Hermano, lá viajem de la vida!!! Aquele abraço aehh Nahuac!! Aqui é o gaúcho!!

    1. Avatar de ElGringo

      Grande Gaúcho! Que honra receber tua mensagem! Muito obrigado pelo carinho e por acompanhar essa jornada de vida. A viagem continua, sempre buscando crescer e honrar nossas raízes. Aquele abraço forte, meu amigo! Sejamos para sempre!

  4. Avatar de Rafael Lima
    Rafael Lima

    História maravilhosa, dando frutos até hoje. Tive a honra de conhecer e conviver com essa família linda. Que bom ver essa história sendo contada com mais detalhes e sendo registrada aqui pra o deleite de todos. Gratidão!

    1. Avatar de ElGringo

      Rafael, é uma honra ler suas palavras. Nossas famílias sempre compartilharam os mesmos valores e visões, e juntas aprendendo tanto com a vida e com a natureza ao longo dos anos. Essa jornada repleta de momentos de aprendizado e união é algo que nos conecta até hoje. Fico muito feliz por poder registrar essa história e compartilhar com todos. Gratidão por você e sua família fazerem parte disso!